O que é o VSR, como ele afeta a saúde do bebê e como prevenir

O que é o VSR, como ele afeta a saúde do bebê e como prevenir
Postado em: 14 de junho Compartilhar Compartilhar

Rita de Cassia Silveira MD, PhD

CRM 18875-RS

Rita de Cassia Silveira é médica, pediatra e neonatologista. Professora Titular da Faculdade de Medicina da Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Há mais de 15 anos coordenando Ambulatório de Prematuros no Hospital de Clínicas de Porto Alegre, sendo a fundadora de uma dinâmica assistencial que organiza o Seguimento após alta da criança de alto risco.

 

O bebê prematuro necessita de proteção

As crianças nascidas prematuras formam um grupo com mais vulnerabilidade para doenças respiratórias. Não houve tempo suficiente para a completa transferência de anticorpos da mamãe para o bebê, pois esse nasceu mais apressadinho. Além disso, quando o bebê nasce muito antes do tempo, suas defesas são ainda mais diminuídas e seus órgãos não estão completamente desenvolvidos, devido à imaturidade1,2

É fundamental as famílias terem cuidados redobrados com seus filhos prematuros. A qualidade de vida futura, adultos mais saudáveis e mais competentes para se inserirem na sociedade depende muito de cuidados com a saúde global precocemente estabelecidos, particularmente nos primeiros anos de vida.

Após a internação neonatal, muitas vezes durante um mês ou mais, há o risco de retorno ao hospital. A causa mais frequente de retorno ao hospital é a infecção respiratória, principalmente causada pelo Vírus Sincicial Respiratório (VSR)3. Esse retorno ao hospital é um impacto no crescimento, no desenvolvimento, no estabelecimento da rotina familiar e no convívio com possível perda de alguns momentos de vínculos infantis. A maioria das crianças é infectada pelo VSR no primeiro ano de vida. Praticamente, todas as crianças serão expostas ao vírus até o final do segundo ano de idade, com reinfecções durante toda a vida. O acometimento das vias aéreas respiratórias inferiores, chamado de bronquiolite (infecção dos brônquios e bronquíolos, pequenos tubos respiratórios dos pulmões) e consequentemente, as formas graves da doença, predominam na primeira infecção e nas populações com doença preexistente e mais vulneráveis, como é o caso dos nossos prematuros. A família precisa estar atenta aos cuidados para evitar essa triste situação3,4.

 Estudos publicados em revistas cientificas importantes apontam que a bronquiolite pelo vírus sincicial respiratório pode ser uma doença muito grave nas populações que apresentam fatores de risco, como é o caso da imaturidade do prematuro e seus baixos níveis de defesas do organismo para combater doenças. Assim, em alguns bebês, uma infecção pelo VSR pode levar a complicações graves e ameaçadoras à vida deles. Além dos prematuros, esse vírus é especialmente perigoso para os bebês com displasia broncopulmonar e para aqueles com doença cardíaca congênita1,4,5.

Devemos proteger nossas crianças desse vilão. Mas, afinal, quem é esse vírus? Vamos conhecê-lo um pouco melhor em seguida.

Referências bibliográficas

1-     Collins A, Weitkamp JH, Wynn JL. Why are preterm newborns at increased risk of infection? Arch Dis Child Fetal Neonatal Ed 2018;103: F391–F394.

2-     Melville JM, Moss TJ. The immune consequences of preterm birth. Front Neurosci. 2013; 7: 79.

3-     Hong T, Bolisetty S, Bajuk B, Abdel-Latif M, Oei J, Jaffe A, et al. A population study of respiratory rehospitalisation in very preterm infants in the first 3 years of life. J Paediatr Child Health. 2016; 52:715–21.

4-     James T. D. Gibbons, Andrew C. Wilson, Shannon J. Simpson. Predicting Lung Health Trajectories for Survivors of Preterm Birth. Front Pediatr. 2020; 8: 318. 

5-     Shi T, McAllister DA, O'Brien KL, et al. Global, regional, and national disease burden estimates of acute lower respiratory infections due to respiratory syncytial virus in young children in 2015: a systematic review and modelling study. Lancet. 2017;390(10098):946-958.

 


 

O Vírus Sincicial Respiratório

O Vírus Sincicial Respiratório (VSR) estruturalmente é esférico, formado por um RNA de fita simples. Duas de suas proteínas, as glicoproteínas G e F merecem uma atenção especial. A Glicoproteína F, promove a penetração do vírus e faz uma fusão com a célula do doente, ou seja, gruda fortemente, formando um envelope bem fechado e protegido. A Glicoproteína G tem a função básica de promover a união do vírus com a célula do doente (hospedeiro) e por essa razão é essencial para a propagação viral dentro do corpo, de uma célula a outra, causando rapidamente infecção respiratória nas vias aéreas inferiores.1

A transmissão ocorre pelo contato direto com secreções respiratórias de pessoas infectadas ou através de superfícies ou objetos contaminados. As taxas de internação hospitalar por infecção pelo VSR são cerca de 16 vezes maiores que as da gripe comum (influenza) em crianças com menos de 1 ano de idade1,2.

A sazonalidade do VSR é muito dependente do clima e da localização geográfica. Tradicionalmente o vírus gosta dos meses chuvosos e frios. Entretanto, o vírus está circulando o ano inteiro. Nas regiões temperadas do hemisfério norte e sul, um padrão sazonal anual é previsivelmente limitado a 3-6 meses durante o inverno e o outono. Já nos trópicos, a umidade e a temperatura desempenham um papel diferente do observado em regiões temperadas, com estudos em regiões tropicais sugerindo que níveis mais altos de umidade e de temperaturas estáveis ​​permitem uma transmissão sustentada do VSR durante todo o ano1-3.

As medidas de higiene são sempre fundamentais na prevenção da transmissão viral, tais como, evitar aglomerações, contato com pessoas com sintomas gripais, uso de álcool gel e higiene global. Uma vez que foram tão preconizadas nesse momento de pandemia, ajudaram a conter ondas de surtos de infecção viral em geral, mas o VSR é muito esperto, tanto que uma pessoa que já teve infecção pelo VSR, não está com imunidade e poderá ter nova infecção a qualquer momento3,4.   

FAMÍLIAS, chamo a atenção de vocês para as medidas preventivas e terapêuticas, elas são fundamentais para reduzir as taxas de retorno ao hospital, assim como demais consequências de uma infecção respiratória grave, especialmente durante o inverno no primeiro ano de vida dos prematuros, população sabidamente mais vulnerável para quadros graves de bronquiolite viral.

Referências bibliográficas

1.   Fonseca W, Lukacs NW, Ptaschinski C. Factors Affecting the Immunity to Respiratory Syncytial Virus: From Epigenetics to Microbiome. Front Immunol. 2018;9: 226.

2.   Stensballe LG, Devasundaram JK, Simoes EA. Respiratory syncytial virus epidemics: The ups and downs of a seasonal virus. Pediatr Infect Dis J. 2003;22: S21–32

3.   Nair H, Nokes DJ, Gessner BD, Dherani M, Madhi SA, Singleton RJ, O'Brien KL, Roca A, Wright PF, Bruce N, Chandran A, Theodoratou E, Sutanto A, Sedyaningsih ER, Ngama M, Munywoki PK, Kartasasmita C, Simões EA, Rudan I, Weber MW, Campbell H. Global burden of acute lower respiratory infections due to respiratory syncytial virus in young children: a systematic review and meta-analysis. Lancet. 2010; 375 (9725):1545-55.

4.   Silveira, Rita C In. Infecção pelo Vírus Sincicial Respiratório em recém-nascidos pré-termos: da prevenção ao tratamento. In: Programa de Atualização em Neonatologia - PRORN editora Artmed/Panamericana Editora Ltda, 2021, M1. p87-112. 

Política de Cookies

Esse Website utiliza política de cookies para oferecer uma melhor experiência para o usuário.

Utilizando esse website você permite o uso desses cookies.

Descubra mais sobre como nós utilizamos e gerenciamos cookies lendo nossa Política de Cookies.