Colostro: A Primeira Vacina do Bebê

Colostro: A Primeira Vacina do Bebê
Postado em: 03 de maio Compartilhar Compartilhar

O aleitamento materno na primeira hora de vida do recém-nascido traz inúmeros benefícios para o bebê, isso porque, o colostro, primeiro leite que a mãe produz quando começa a amamentar, é rico em proteínas e nutrientes ativadores do sistema imunológico.1

O colostro é um líquido espesso e amarelado, rico em anticorpos que desempenham um papel fundamental na imunidade e desenvolvimento saudável do bebê. Geralmente, dura em torno de três a cinco dias, sendo substituído pelo leite maduro após esse período.1

Por que o colostro é amarelado? Porque é rico em carotenoides e vitamina A importantes para a visão do bebê, além de manter a saúde da pele e do sistema imunológico. Geralmente os bebês nascem com baixas reservas de vitamina A, e o colostro ajuda a compensar essa deficiência.2

Veja na tabela 1 como evolui a composição nutricional do colostro para leite de transição e finalmente o leite maduro: 3


Composição do colostro e leite materno maduro de mães de crianças a termo (Ministério da Saúde, 2009) 3

Observe, que diferente do leite maduro, o colostro possui altas concentrações de proteínas e baixa concentração de lactose (açúcar do leite materno) e gorduras, fatos que explicam a melhor digestibilidade do colostro.3

Uma outra característica interessante do colostro, ele tem uma composição semelhante ao do líquido amniótico, esta peculiaridade funciona como um facilitador para a transição do bebê da vida intrauterina para o mundo exterior.4

Outros componentes encontrados em maior concentração no colostro são as imunoglobulinas (mais conhecidos como anticorpos maternos), um tipo de proteína com ação bem expressiva para o desenvolvimento do sistema imunológico do bebê. 1,3

Dentre as imunoglobulinas transferidas da mamãe para o bebê destaca-se a Imunoglobulina A (sigla IgA) que protege o bebê contra doenças gastrointestinais e respiratórias principalmente. 5

 Um dado impressionante: até dois terços das células do colostro são representadas pelos glóbulos brancos, que protegem contra infecções, além de ajudar o bebê a iniciar sua própria defesa imunológica.6

O colostro também é rico em outros componentes imunológicos e fatores de crescimento que estimulam o desenvolvimento da mucosa intestinal do bebê, entre eles, como vimos na tabela 1, os oligossacarídeos do leite materno.7

Houve, nos últimos anos, um extraordinário aumento do conhecimento sobre os efeitos específicos dos oligossacarídeos do leite humano (sigla em inglês HMOs, Human Milk Oligosaccharides).7

Os HMOs (exclusivos do leite materno) atuam no trato gastrointestinal dos lactentes amamentados, de modo a evitar uma possível adesão das bactérias causadoras de doenças à mucosa intestinal e influenciam nos processos de maturação do intestino. Eles servem de substrato alimentar para microbiota intestinal (flora intestinal), sendo assim, o bebê que recebe o colostro terá uma colonização intestinal muito mais efetiva, contribuindo para um melhor desenvolvimento do maior sistema imunológico de um ser humano: o intestino.7

As evidências que o colostro é realmente a primeira vacina do bebê se consolidam com uma prática recentemente implantada nas Unidades de Terapia Intensiva de Recém Nascidos Pré Termo (RNPT) e com muito baixo peso ao nascer (RNMBP): a colostroterapia.8

Os estudos recentes mostram que a colostroterapia, também conhecida como terapia imunológica oral, consiste na administração orofaríngea de colostro como terapia imune, sem função nutricional para os RNPT e sobretudo no recém-nascido de muito baixo peso (RNMBP) nas primeiras seis horas de vida, mas com uma grande função imunológica.8,9

O protocolo de colostroterapia proposto pela literatura compreende administrar 0,1ml de leite materno cru (imediatamente antes ordenhado pela mãe) na face interna de cada bochecha do recém-nascido. O objetivo não é a deglutição, mas sim proporcionar o contato do leite com a mucosa oral para atingir os benefícios1, é como se fosse uma transfusão de anticorpos (principalmente as IgAs citadas nos parágrafos anteriores).8,9

A colostroterapia deve ser realizada mesmo que o RNPT esteja em dieta zero e independe de administração da dieta.8,9

A principal vantagem dessa terapia é funcionar como uma espécie de imunoterapia, por fortalecer o sistema imunológico do bebê em um momento delicado. Com isso, o recém-nascido corre menor risco de infecções neonatais e, consequentemente, de morte. Mas além disso, a colostroterapia também atua como forma de estímulo para a amamentação precoce e inicia o vínculo da alimentação entre mãe e filho.8,9

Finalizando, vamos deixar uma mensagem a todos os pais2, não se esqueçam que o leite materno é o melhor alimento que um bebê pode ter. É de fácil digestão e promove um melhor crescimento e desenvolvimento, além de proteger contra doenças. Mesmo em ambientes quentes e secos, o leite materno supre as necessidades de líquido de um bebê. Água e outras bebidas como os chás não são necessárias até o sexto mês de vida. Dar ao bebê outro alimento, que não o leite materno, aumenta o risco de diarreia e/ou outras doenças.10

Bebês recém-nascidos devem ficar perto de suas mães e devem ser amamentados na primeira hora após o parto. O colostro, o leite amarelado e grosso que a mãe produz nos primeiros dias após o nascimento, é o alimento ideal para recém-nascidos. É muito nutritivo e ajuda a proteger o bebê contra infecções. O bebê não precisa de nenhum outro alimento enquanto espera que a mãe produza mais leite.10

O aleitamento materno protege bebês e crianças pequenas de doenças perigosas. O colostro é a primeira ‘vacina’ do bebê. A amamentação também é responsável por criar um laço maior entre mãe e filho.10

 

Referências Bibliográficas

1.   Andreas NJ, Kampmann B, Le-Doare KM. Human breast milk: a review on its composition and bioactivity. Early Hum Dev. 2015;91(11):629-35.

2.   Patton S et al. Carotenoids of human colostrum. Lipids. 1990;25(3):159-165.

3.   Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Atenção Básica. Saúde da criança: aleitamento materno e alimentação complementar – 2. ed. – Brasília: Ministério da Saúde, 2015. Cadernos de Atenção Básica nº23. Acesso 12/2022. Disponível em: https://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/saude_crianca_aleitamento_materno_cab23.pdf

4.   Marlier L et al. Neonatal responsiveness to the odor of amniotic and lacteal fluids: a test of perinatal chemosensory continuity. Child Dev. 1998;69(3):611-623.

5.   Pribylova J et al. Colostrum of healthy mothers contains broad spectrum of secretory IgA autoantibodies. J Clin Immunol. 2012;32(6):1372-1380.

6.   Hassiotou F et al. Maternal and infant infections stimulate a rapid leukocyte response in breastmilk. Clin Transl Immunology. 2013;2(4):e3.

7.   Bode L. Human milk oligosaccharides: every baby needs a sugar mama. Glycobiology. 2012;22(9):1147-1162.

8.   Lopes JB, Oliveira LD, Soldateli B. Colostroterapia: uma revisão de literatura. Demetra; 2018; 13(2); 463-476.

9.    Montgomery DP, Baer VL, Lambert DK, Christensen RD. Oropharingeal Administration of Colostrum to Very Low Birth Weight Infants: Results of a Feasibility Trial. Neonatal Intensive Care 23-1(2010) p27-29.

10. UNICEF. Aleitamento Materno. Acesso dezembro 2022. Disponível em: https://www.unicef.org/brazil/aleitamento-materno

 

TADEU FERNANDO FERNANDES

CRM – SP – 46876   RQE nº 55494

Especialista em Pediatria pela Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) e Associação Médica Brasileira (AMB)

Presidente do Departamento Científico de Pediatria Ambulatorial da Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP)

Secretário do Departamento de Pediatria Ambulatorial da Sociedade de Pediatria de São Paulo (SPSP)

Especialização em Early Nutrition (ENS) pela Ludwig-Maximilians University Munich

Pós-Graduado em Nutrologia Pediátrica pela Boston University School of Medicine

American Academy of Pediatrics - AAP Membership Effective

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