Vivência em UTI neonatal: Adaptações e Desafios

Vivência em UTI neonatal: Adaptações e Desafios
Postado em: 30 de novembro Compartilhar Compartilhar

Autora: Isabella Thomé – Psicóloga Hospitalar

 

Quando ficamos sabendo de uma gestação, na maioria das vezes, cenários agradáveis se aproximam das nossas fantasias. Pensamos em rostinhos bochechudos e rosados, no cheiro da cabecinha do bebê, desfile de roupas de recém-nascidos, sessão de fotos e casa cheia de brinquedos. Às vezes até pensamos mais pra frente, no momento do primeiro dia na escola, no primeiro namoro, início da adolescência, enfim, a imaginação não para. 1

O que não passa por esse processo de imaginação é a possibilidade deste sonho não sair como o esperado.

A expectativa é tão grande, que não sobra espaço nenhum para o sentimento de frustração – porque, afinal, ninguém quer pensar no que “pode dar errado”, não é?

Acontece que, algumas vezes, as coisas não saem como o planejado. Pode acontecer de o bebê não ir direto para o colo da mãe assim que nascer ou que não fique no quarto durante a internação; seja por causa de um desconforto respiratório depois do nascimento, por icterícia, porque está com baixo peso, porque nasceu prematuro, porque descobriu uma malformação, porque está com hipoglicemia... No final, o motivo não é o mais importante, mas, sim, a frustração e angústia pelo cenário da UTI neonatal ter roubado todo o romance que seria ter seu recém-nascido pertinho de você depois do nascimento, levando ele pra casa em três dias, no máximo.

Antes de falarmos dessa mudança, é importante expandir o significado de sentimento de luto – porque ele vai aparecer bastante dentro de um processo de adaptação à UTI neonatal.

O luto não está estritamente relacionado à morte (apesar de ser sua forma mais comum de se fazer presente). O luto é caracterizado pelo sentimento de perda. Seja perda de expectativas, de segurança ou perda do que é ideal. Há pessoas que se sentem enlutadas com uma viagem que acaba ou um relacionamento que termina, ou até em uma situação de mudança de emprego... Em todos os casos, estamos falando de perda: do que existia e passou a não existir mais. 2

O imaginário dá espaço para que o real apareça, ou seja, a expectativa fica de lado e o que quem toma conta do cenário é a frustração.

Quando estamos falando sobre entrada na UTI neonatal, estamos falando sobre adaptação! Adaptação para compreender que o ciclo gestacional foi encerrado e que um novo foi aberto; adaptação para que os nossos olhos se acostumem a ver uma incubadora ao lado da outra com fios e bombas de medicação; adaptação para que os ouvidos se familiarizem com termos técnicos e com os apitos sonoros que não dão trégua dentro da sala. É perceber que nem tudo é tão assustador quanto parece. Que apesar do ambiente ser hostil, é possível receber colo das pessoas que trabalham e convivem dentro da UTI neonatal. ¹

Para se adaptar, é necessário reconhecer que o tempo é um aliado importante. Às vezes os dias são tão intensos dentro da unidade neonatal, que se assemelham a semanas! No entanto, realizar um exercício de memória retrospectiva ajuda a nos lembrar de quanto tempo essa vivência está acontecendo, sendo importante para afastar pressa, culpa ou auto cobrança.

Outro fator que auxilia nos recursos de enfrentamento é a boa comunicação com equipe de saúde. Tirar dúvidas e sanar questionamentos aproxima a sensação de cuidado e distancia fantasias e cenários assustadores, proporcionando maior controle emocional. 

Além disso, poder contar com rede de apoio e acolhimento faz toda a diferença para tornar a vivência em UTI neonatal suportável. Reconhecer as fragilidades e procurar ajuda é o caminho para saúde mental.

 




REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA

1 - https://rsaude.com.br/videos/materia/uti-neonatal-vivencia-de-amor-e-superacao/12959  

2- https://zenklub.com.br/blog/saude-bem-estar/luto/

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