BLOG | CONSTIPAÇÃO FISIOLÓGICA X PATOLÓGICA NO BEBÊ

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Postado em: 17 de agosto Compartilhar Compartilhar

A constipação intestinal ou “intestino preso” é o distúrbio mais comum da defecação. Estima-se que a prevalência mundial seja de 9,5% da população infantil1, entretanto, estudos brasileiros mostram uma prevalência que varia de 14,7% a 38,8%.2,3

A constipação intestinal não é uma doença, mas um sintoma que é definido segundo mudanças na frequência das evacuações, no tamanho e consistência das fezes, e na facilidade, ou não, de passagem das fezes pela ampola retal.3,4

O diagnóstico de constipação em crianças menores de 4 anos de idade é simples, deve incluir 2 ou mais dos seguintes critérios por no mínimo 1 mês:5


Em quase metade dos casos a constipação surge no primeiro ano de vida, mas infelizmente é mais diagnosticada nas crianças em idade escolar; esse atraso no diagnóstico, e consequente retardo nas intervenções, impacta em curto, médio e longo prazo nas esferas físicas e psicológicas da criança.4,5

Reforço a atenção para o diagnóstico precoce do “intestino preso” e o imediato planejamento das medidas de prevenção e tratamento. Este alerta é tão importante que recentemente mereceu uma publicação de “Recomendações Baseadas em Evidências Científicas” publicadas em conjunto pelas Sociedades Europeia e Norte Americana de Gastroenterologia Pediátrica, destacando que em 17% a 40% dos casos a constipação intestinal começa no primeiro ano de vida e quando uma abordagem efetiva não é realizada, o quadro pode evoluir para complicações que incluem:5,6


Esses agravantes podem se associar, e progressivamente influir negativamente na qualidade de vida do paciente e sua família. Um estudo realizado no Reino Unido mostrou que crianças com constipação intestinal têm um escore de qualidade de vida menor que crianças sem “intestino preso”. Veja no gráfico (1) abaixo a influência negativa na esfera física, emocional, social e escolar.7


Gráfico 1: veja o escore negativo das crianças com intestino preso em várias esferas de avaliação de qualidade de vida, quando comparadas a crianças sem intestino preso.7

A causa mais frequente de constipação intestinal no lactente é a funcional ou fisiológica (normal); assim que o bebê nasce, seu intestino funciona com um ritmo bem característico “mama e faz cocô logo em seguida”.8

Entretanto, entre o primeiro e o segundo mês, com o desenvolvimento do sistema digestório, a criança começa a criar o seu hábito intestinal, que é diferente para cada bebê, e, nessa transição, a frequência de evacuações pode se tornar irregular, onde vários fatores podem atuar como: o tipo de alimentação (leite materno e/ou fórmula infantil), qualidade e quantidade da flora intestinal, grau de estresse do bebê que está muito relacionado também com o grau de ansiedade dos pais, ambiente, temperatura, entre outras peculiaridades.8

Nos primeiros meses de vida, enquanto não se faz o início da introdução alimentar, consideramos normal o bebê evacuar (de modo pastoso) 3 a 4 x ao dia, ou ainda, evacuar a cada 5 a 7 dias, enquadra-se no diagnóstico de constipação intestinal funcional (fisiológica).8

Após a introdução alimentar espera-se um ritmo evacuatório diário, com fezes não endurecidas e sem esforços. Este é o momento que se traça uma linha de transição entre a constipação fisiológica e a patológica com todas as consequências já citadas neste artigo.8

Esta é a hora de você levar sua criança ao pediatra, fazer um diário do ritmo evacuatório do seu bebê, características das fezes e demais informações, para ele analisar e iniciar as intervenções caso se configure um caso de constipação intestinal; em primeiro lugar as dietéticas enriquecendo a alimentação com fibras e aumentando a oferta de água; podemos intervir também na saúde intestinal com administração de fibras prebióticas, aquelas que são seletivamente metabolizadas pelas bactérias probióticas (bactérias do bem) harmonizando assim o hábito intestinal.8

Também damos dicas de movimentos que ajudam a dinâmica intestinal, como deixar o bebê engatinhar, andar com ajuda dos pais, massagens abdominais, e principalmente não deixar as fezes impactarem, ou seja, endurecerem, fato que vai levar a criança ao péssimo relacionamento “fazer coco = dor”, e aí começam todos os problemas e situações adversas citadas neste artigo.8


Referências Bibliográficas

  1. Gouveia MAC, Lins MGM, Marmo MCR. Constipação Intestinal. In: Manual de Condutas em Pediatria da UFPE 3 ed. Ed UFPE. 2022:417-431.
  2. Morais MB, Maffei HVL. Constipação intestinal. J. pediatr. (Rio J.). 2000; 76 (Supl.2): S147-S156.
  3. Bigélli RHM, Fernandes MIM, Galvão LC. Constipação intestinal na criança. Medicina, Ribeirão Preto, 37: 65-75, jan./jun. 2004.
  4. Junqueira JCF et al. Constipação intestinal crônica na criança e no adolescente. Temas de Pediatria nº 87. Acesso em novembro 2022. Disponível em: https://www.researchgate.net/publication/284444825
  5. Benninga MA, Nurko S, Faure C, Hyman PE., Roberts ISJ, Schechter NL. Childhood functional gastrointestinal disorders: neonate/toddler. ROMA IV. Gastroenterology 2016, 150(6), 1443-1455.
  6. Tabbers MM et al. Evaluation and treatment of functional constipation in infants and children: evidence-based recommendations from ESPGHAN and NASPGHAN. Journal of pediatric gastroenterology and Nutrition 2014. 58.2: 258-274.
  7. Belsey J, Greenfield S, Candy D, Geraint M. Systematic review: impact of constipation on quality of life in adults and children. Alimentary pharmacology & therapeutics 2010, 31(9), 938-949.
  8. Pires AMB. Constipação Intestinal. In: Fernandes TF, P AMB. Dia a Dia do Pediatra. 1ª ed. Rio de Janeiro. Atheneu 2021:122-125.


TADEU FERNANDO FERNANDES | CRM – SP – 46876  RQE nº 55494

Especialista em Pediatria pela Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) e Associação Médica Brasileira (AMB)

Presidente do Departamento Científico de Pediatria Ambulatorial da Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP)

Secretário do Departamento de Pediatria Ambulatorial da Sociedade de Pediatria de São Paulo (SPSP)

Especialização em Early Nutrition (ENS) pela Ludwig-Maximilians University Munich

Pós-Graduado em Nutrologia Pediátrica pela Boston University School of Medicine

American Academy of Pediatrics - AAP Membership Effective

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